A cada ano que passa, a humanidade consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de renovar. Segundo a Global Footprint Network, o ?Dia da Sobrecarga da Terra? (Earth Overshoot Day) ocorreu em 1 de agosto, revelando a urgência de repensarmos o nosso modelo de desenvolvimento. Em nenhum outro setor isso é mais crítico do que no setor dos edifícios, que atualmente é responsável por cerca de 40% do consumo energético e 36% das emissões de gases de efeito estufa na União Europeia. Globalmente, o setor contribuiu para um recorde histórico de 10 gigatoneladas de emissões de CO2, como apontado pela ONU.
O setor da construção, frequentemente visto como um vilão ambiental devido ao consumo excessivo de matérias-primas, uso de recursos não-renováveis e geração excessiva de resíduos, tem agora a oportunidade de se tornar um agente de mudança positiva. Uma das chaves para essa transformação reside na avaliação da sustentabilidade, um campo interdisciplinar que visa medir e analisar o impacto das atividades humanas em termos de sustentabilidade. Essa avaliação envolve a consideração de fatores ambientais, sociais e económicos, garantindo que o desenvolvimento responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.
Existem no mundo centenas de ferramentas de avaliação de sustentabilidade que ajudam a medir o impacto ambiental dos edifícios ao longo de todo o seu ciclo de vida, desde o projeto até ao fim da sua vida útil. Essas metodologias avaliam o consumo energético, a eficiência no uso de água, a gestão de resíduos, entre outros critérios, promovendo a construção de edifícios mais sustentáveis e menos poluentes. As mais conhecidas são o BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e o SBTool (Sustainable Building Tool ? International Initiative for a Sustainable Built Environment). No entanto, é importante salientar que tanto o BREEAM como o LEED foram desenvolvidos tendo por base a realidade, a legislação e as normas vigentes no Reino Unido e nos EUA, respetivamente, sendo o SBTool o único método e ferramenta que está preparado para ser adaptado à realidade de cada país.
As ferramentas de avaliação de sustentabilidade permitem tomadas de decisão mais informadas, apoiando governos, empresas e todos os outros stakeholders na escolha de soluções que equilibram o crescimento económico, a proteção ambiental e a equidade social. Elas também promovem a monitorização contínua do progresso em direção aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a identificação de riscos e oportunidades, e a transparência na comunicação dos impactos ambientais, sociais e económicos.
Todos os métodos e ferramentas de avaliação utilizam indicadores de sustentabilidade, alguns mais objetivos e outros mais subjetivos, mas importa realçar que a utilização de indicadores objetivos e quantitativos é fundamental para medir e determinar com rigor o nível de sustentabilidade dos projetos. Esses indicadores sintetizam o desempenho em diferentes dimensões, como os impactos ambientais e sociais, proporcionando uma visão abrangente e integrada do desempenho sustentável. Por exemplo, ferramentas como o SBTool avaliam edifícios comparando o desempenho obtido com as práticas convencionais e as melhores práticas, estimulando a inovação e a criatividade no setor.
Além de reduzir os gastos e os impactos operacionais dos edifícios, as avaliações de sustentabilidade contribuem para melhorar o conforto e a produtividade dos utilizadores, reforçar a imagem e o marketing dos projetos e aumentar o valor de mercado dos edifícios. No entanto, é importante considerar as limitações dessas metodologias, como a variabilidade dos indicadores e a falta de consenso sobre os parâmetros utilizados quando são utilizadas ferramentas que não estão devidamente adaptadas à realidade local ou regional.
No cenário atual, a construção sustentável emerge como uma vantagem competitiva, sendo cada vez mais procurada por promotores e projetistas. Ao adotar metodologias robustas de avaliação da sustentabilidade, o setor da construção pode transformar-se, tornando-se um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável e contribuindo para um futuro mais equilibrado.
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Autor: Luís Bragança - Professor de Construção Sustentável e Coordenador do Projeto CricularB - Implementation of Circular Economy in the Built Environment | Departamento de Engenharia Civil - Universidade do Minho